Uma outra dimensão artística
A voz e figura de Amália Rodrigues marcaram também presença no grande ecrã, além das grandes salas de espetáculo por todo o mundo. Quando era pequena dizia que queria ser a Sylvia Sidney ou a Greta Garbo, e quando os filmes tinham finais tristes queria mudá-los, inventar outros finais. O desejo de ser artista sempre a acompanhou, mas nunca pensou que viesse realmente a acontecer.
Quando entrou nos primeiros filmes, Amália já era conhecida em Lisboa por atuar em casas de Fado, no teatro e na revista, e já tinha gravado os primeiros discos, no Brasil. O cinema foi mais uma das vertentes importantes na carreira de Amália.
A grande estreia de Amália no cinema foi em 1947, embora o primeiro convite tenha surgido alguns anos antes, 1941, pela mão de António Lopes Ribeiro para entrar no Pátio das Cantigas. A personagem era feita para Amália, uma jovem que cantava Fado e que se chamava Amália. No entanto, o maquilhador António Vilar achou que as sobrancelhas de Amália não encaixavam no cinema e o papel acaba por ser dado a Maria Paula.
Foram várias as participações em filmes, como protagonista ou mesmo atuando em nome próprio.
Os maiores sucessos foram Capas Negras e Fado, História de uma Cantadeira. O sucesso foi tanto que se juntavam multidões para ver Amália e eram necessários cordões policiais para que pudesse passar.
Mas o maior destaque vai para o filme Amantes do Tejo. Correu mundo e, desta forma, todos puderam ver e ouvir Amália Rodrigues. As pessoas apaixonaram-se pela voz de Amália a cantar “Barco Negro”, o que a levou ao Olympia e a uma carreira internacional. “O filme deu-me o pontapé de saída para França e a França deu-me o pontapé de saída para o Mundo.” diz a Vítor Pavão dos Santos para a sua biografia. Em quase todas as participações no cinema, Amália interpreta vários temas musicais. As Ilhas Encantadas é o único em que não canta.
A grande estreia como atriz foi no filme Capas Negras, de 1947. Foi um dos maiores sucessos do cinema português, bateu recordes de bilheteira e de permanência em cartaz.
Depois, seguiu-seFado, História de uma Cantadeira de 1947 – outro grande êxito, visto por milhares de espetadores, semana após semana. O enredo assemelha-se a episódios da vida de Amália Rodrigues. No entanto, na sua biografia afirmou que “(…) nada tem que ver com a minha historia, a não ser que casei com um guitarrista e que vendia fruta.”.
Depois do “Fado” é convidada por Leitão de Barros para protagonizar Vendaval Maravilhoso, de 1949, no papel de Eugénia da Câmara.
Em 1958, entra mais uma vez como atriz principal em Sangue Toureiro, a primeira longa metragem de ficção portuguesa a cores. Amália Rodrigues, no papel de uma fadista de grande sucesso, e Diamantino Viseu, como toureiro.
Segue-se Fado Corrido, de 1964, onde os protagonistas são o próprio realizador e Amália Rodrigues, no papel de fadista.
Por fim, As Ilhas Encantadas, de 1965, o único filme onde não canta, foi filmado na ilha de Porto Santo. E é nas gravações deste filme que Amália acaba por conhecer Augusto Cabrita. “Foi nas filmagens de As Ilhas Encantadas que conheci o Augusto Cabrita. Eu andava em Porto Santo, sem me pintar, só com o cabelo amarrado e quando lhe apareci arranjada ficou muito desapontado e não me queria fotografar assim. Tive de lhe dizer: “Eu sou a Amália Rodrigues, não sou a Hunila, e quero é fotografias minhas.”, diz na sua biografia a Vítor Pavão dos Santos.
Estas foram as participações de Amália Rodrigues no grande ecrã como protagonista. Além destas, Amália fez também participações mais curtas em vários filmes.
Mesmo sem ser no papel principal, Amália e a sua voz estão presentes em vários filmes.
Em Fado Malhoa, um conjunto de curtas-metragens de 1947 dirigidas por Augusto Fraga e filmadas em Madrid, Amália aparece a cantar o tema "Fado Malhoa" com Jaime Santos, numa recriação do quadro O Fado. No filme Sol e Toiros, de 1949, Amália surge numa cena de homenagem ao toureiro e interpreta o Fado "Silêncio". Música de Sempre (Musica de Siempre) trata-se de um musical, de 1955, constituído por uma sucessão de quadros musicais gravados em cenários de estúdio – Amália Rodrigues entra no filme a cantar o tema "Lisboa Não Sejas Francesa". Em 1955, entra no filme Os Amantes do Tejo, um filme importantíssimo na carreira internacional de Amália. Neste filme interpreta “Barco Negro” e “Solidão”. Primavera em Portugal (April in Portugal) é uma curta metragem de viagem, de 1955, num roteiro por Lisboa – Amália aparece no bairro de Alfama a cantar o tema "Coimbra" e "Canção do Mar". A interpretação do tema "Coimbra" teve um sucesso tão grande que passou a ser conhecido pelo título "Abril em Portugal". Canções Unidas (Las Canciones Unidas) foi uma obra assinada por quatro realizadores, de 1960, com uma seleção de grandes nomes da música de todo o mundo, onde cada país expõe a sua cultura com a interpretação de um tema musical – Portugal apresenta Fado, com Amália Rodrigues a interpretar o tema "Uma Casa Portuguesa". O filme Via Macau (Via Macao), de 1966, película de suspense, conta com uma interpretação do tema "Le Premier Jour du Monde". Por fim, já em 1991, entra no filme Até ao fim do mundo, com direção de Wim Wenders – Amália aparece num elétrico a falar com um casal apaixonado e a aplaudi-los.
Amália deixou alguns projetos por realizar. Um deles, quem sabe o mais importante, foi com Anthony Quinn. O convite aconteceu quando Amália foi a Cannes receber um prémio no M.I.D.E.M (1967). Quinn propôs-lhe participar nas Bodas de Sangue, de Lorca. Ficou tudo combinado e até cartas trocaram. Contudo, os herdeiros de Lorca não deram autorização. Anthony Quinn escreveu a Amália pedindo-lhe que escolhesse outro argumento, mas como diz na sua biografia a Vítor Pavão dos Santos: